Alguns estudiosos afirmam que falar sobre aquilo que nos angustia ajuda a aliviar as pressões de enfrentar grandes desafios. Uma das intenções desse diário é essa. A outra, menos evidente, e dividir com pessoas que possam ter o mesmo desafio (prefiro chamar assim, pois a palavra problema é deveras pessimista): Encarar uma cirurgia no tórax. Recentemente descobri que possuo uma má formação no esterno chamada pelos médicos de Pectus Carinatum. Digo recentemente, pois eu sempre soube que havia algo errado, mas somente uma longa e vasta peregrinação diagnóstica que consegui chegar ao tão esperado diagnóstico correto e, melhor, a possibilidade de cirurgia.
Para quem não conhece, o Pectus Carinatum é conhecido entre os leigos como "Peito de Pombo", "Peito de Sapateiro" e "Tórax em Quilha. "Dentre as deformidades da parede torácica, o pectus carinatum não tem recebido o mesmo grau de interesse que o pectus excavatum, sendo sua abordagem desconhecida por grande parcela dos pneumologistas, pediatras e cirurgiões torácicos. Isto faz com que estes pacientes não sejam encaminhados para tratamento. Trata-se de deformidade com incidência de 1:1000 adolescentes, oligosintomática, mas que leva a consultas médicas por implicações de ordem estética e emocional, sendo seus portadores introvertidos, não praticantes de exercícios físicos e não frequentadores de praias ou piscinas para não expor o tórax. O diagnóstico é clínico e visual, e detalhes são obtidos com a radiografia do tórax e a tomografia computadorizada. O tratamento é baseado em organograma bem conhecido, que resume as condutas ortopédicas e cirúrgicas. O compressor dinâmico do tórax, associado a exercícios físicos, é indicado nos adolescentes com tórax flexível no pectus carinatum inferior e pectus carinatum lateral, tendo indicação limitada no pectus carinatum superior. A indicação cirúrgica é feita pela presença da deformidade e com motivação estética, em adolescentes com tórax não flexível, em jovens, e em adultos. Dentre as técnicas relatadas, destaca-se a esternocondroplastia modificada, pelos excelentes resultados estéticos alcançados." (Fonte: Scielo.br)
Dito nesses termos, parece bem fácil. Fácil lidar ou fácil operar. Na prática não é tão simples assim. Lidar com esse tipo de deformidade, em uma sociedade que preza o esteticamente belo é uma tarefa árdua no dia a dia de quem possui essa má formação. Basta um decote para atrair perguntas curiosas (e dolorosas) do tipo: "O que é isso?", "Nossa, o que aconteceu com seu peito?" "Que esquisito... isso doi?". Após muitos anos lidando com esses questionamento e mais 03 anos de análise, hoje, para mim em especial, não é tão complicado responder.
A intervenção cirurgia também é um aspecto árduo. Como qualquer correção óssea, segundo relatos (ainda não fiz a minha) é bem dolorida e com pós-operatório extenso. Mas demonstra-se uma opção para as pessoas que anseiam por corrigir essa deformidade.
Mas enfim, a intenção aqui é dividir opiniões, informações e sentimentos. Espero contribuir com pessoas que vivenciam as mesmas angústias que eu. PS: Todo o meu processo cirúrgico está sendo realizado via SUS. Em breve descrevo para vocês as etapas.
Abraços,
Cintia Santos
